Reflexões sobre a Humanidade no Sistema Prisional: Uma Análise do Filme 'Ainda Estou Aqui'

A ditadura, enquanto regime de repressão e controle, se manifesta de diversas maneiras que impactam diretamente as relações de poder dentro de uma sociedade. Um dos aspectos mais notoriedade deste fenômeno é a manipulação das forças policiais por líderes autoritários, que utilizam esses agentes para instaurar um clima de medo e submissão entre a população.

SISTEMA PENITENCIÁRIO

Wilson Ribeiro

3/10/20255 min read

O Impacto da Ditadura nas Relações de Poder

A ditadura, enquanto regime de repressão e controle, se manifesta de diversas maneiras que impactam diretamente as relações de poder dentro de uma sociedade. Um dos aspectos mais notoriedade deste fenômeno é a manipulação das forças policiais por líderes autoritários, que utilizam esses agentes para instaurar um clima de medo e submissão entre a população. Essa relação entre a autoridade política e as forças de segurança é crucial para compreender como a opressão se perpetua em contextos ditatoriais.

Historicamente, muitos governos totalitários recorreram à violência sistemática e à repressão para silenciar vozes dissidentes e garantir sua continuidade no poder. O regime militar brasileiro, que perdurou de 1964 a 1985, é um exemplo emblemático, onde as forças armadas e a polícia política foram instrumentalizadas para perseguir opositores, levando a uma escalada de violações dos direitos humanos. A tortura, o sequestro e a execução de dissidentes tornaram-se práticas comuns, divulgando um estado de terror que buscava desmobilizar qualquer forma de contestação.

Além disso, é fundamental considerar o papel que a sociedade civil desempenha nesses cenários. Em muitas ocasiões, a complicidade ou a neutralidade das instituições sociais e políticas permitiu que os regimes autoritários prosperassem. A falta de um contrapeso institucional foi necessária para que as forças de repressão atuassem sem temor de retaliação. Este ciclo vicioso não apenas facilita a manutenção do poder, mas também contribui para a desumanização dos indivíduos, tornando a violência uma norma social aceita.

O reconhecimento da função que as forças de segurança desempenham em contextos de ditadura é indispensável para a compreensão ampla das dinâmicas de poder. É essencial que a sociedade reflita sobre essas questões para evitar a repetição de erros do passado. Um entendimento claro do impacto da ditadura permite uma análise mais profunda das raízes da violência e opressão que persiste em muitos sistemas prisionais e sociais até os dias atuais.

A Humanização nas Relações Prisionais

O filme "Ainda Estou Aqui" oferece uma perspectiva poderosa sobre a humanização dentro do sistema prisional, destacando como as interações entre detentos e agentes prisionais podem impactar a vida de ambos. A narrativa gira em torno da figura de Eunice Paiva, uma mulher, vítima da ditadura que, ao longo do enredo, demonstra a importância da empatia e compaixão, mesmo em um ambiente marcado por rigidões e desafios emocionais severos. As relações humanas que emergem neste contexto são um reflexo da complexidade emocional que permeia a vida dos cárceres.

No ambiente prisional, a humanização é frequentemente colocada à prova. O filme ilustra que, apesar das circunstâncias adversas, é possível cultivar uma atmosfera de respeito e compreensão. A personagem da vida real, Eunice Paiva vivida por Fernanda Torres, ao reportar ao escritor e diretor do filme que o seu carcereiro se compadeceu do seu sofrimento, fato este consignado no próprio roteiro do filme ganhador do Oscar 2025, em que o personagem em uma de suas aparições no longa, diz para Eunice, que "não concordava com aquelas arbitrariedades e abusos". Evidente que a Personagem da vida real fez questão de relatar este momento, por uma questão de empatia e gratidão pelo tratamento recebido em um momento de terror e complexidade da época. Daí, há de se observar a importância de se dispor em reconhecer a individualidade dos detentos, promovendo diálogos que vão além da mera confirmação de ordens. Essa abordagem humanizada pode contribuir para a redução de tensões e podendo ajudar na reintegração social dos indivíduos encarcerados.

Assim, "Ainda Estou Aqui" provoca uma análise crítica das relações prisionais, enfatizando que, mesmo em ambientes que parecem estar irreversivelmente marcados pela hostilidade, a humanização pode e deve ser uma prioridade. A obra convida os espectadores a considerar o papel vital que a empatia desempenha na construção de um sistema penitenciário mais justo e humano.

A Importância do Agente Prisional na História de Eunice Paiva

No filme 'Ainda Estou Aqui', a figura do agente prisional destacado como o carcereiro que se sensibilizou com a história de Eunice Paiva é emblemática. Este personagem não apenas cumpre uma função dentro do sistema prisional, mas assume um papel crucial que transcende as barreiras da institucionalização e impessoalidade frequentemente associadas a essas instituições. Através de sua empatia, ele exemplifica uma vez que resistiu à desumanização que permeava o ambiente prisional.

A coragem do carcereiro em expressar sua discordância em relação ao regime representa um ato de grande relevância. Ao fazê-lo, ele se destacou como um símbolo de esperança e de compaixão em um sistema que muitas vezes é visto como inóspito e cruel. Sua disposição para questionar as normas estabelecidas não apenas acrescenta profundidade ao enredo, mas também reflete um aspecto essencial da humanidade: a capacidade de se impor em face do que é considerado o status quo. Este comportamento é indicativo de uma batalha interna mais ampla sobre as questões morais que cercam a justiça e as penitenciárias.

O relacionamento que se desenvolve entre Eunice e seu carcereiro não é meramente de custódia, mas sim uma conexão significativa que proporciona tanto alívio emocional quanto um novo ânimo à vida de Eunice. Este vínculo humanitário provoca profundas mudanças na maneira como ela se vê e se relaciona com o momento de terror. O impacto desse relacionamento vai além do individual, levantando questões sobre o potencial do sistema prisional para ser um lugar de reabilitação e reformulação de identidades pessoais, ao invés de apenas um espaço de punição. A história de Eunice Paiva, torturada e com todos os seus familiares vivendo em baixo de terror e opressão, mediada pela compaixão de um agente prisional, nos leva a considerar a importância da empatia e da humanização nas interações dentro do sistema prisional.

Fazendo a Diferença: O Papel dos Policiais Penais Hoje

O papel dos policiais penais na sociedade contemporânea é vital e multifacetado, sendo essencial que suas funções sejam executadas com responsabilidade ética e humanidade. Esses profissionais estão na linha de frente dos sistemas prisionais, onde suas decisões e atitudes impactam diretamente a vida dos detentos e, por consequência, a dinâmica da sociedade como um todo. A necessidade de compaixão no tratamento dos apenados é de suma importância, uma vez que o respeito à dignidade humana deve ser uma diretriz fundamental, mesmo em um ambiente que frequentemente se caracteriza pela rigidez e opressão.

Ao longo da história, os desafios enfrentados pelos policiais penais têm sido variados, abrangendo limitações estruturais, falta de recursos e a pressão social para manter a ordem. No entanto, a oportunidade de transformação e melhoria do sistema prisional se manifesta na maneira como esses profissionais abordam suas tarefas diárias. O exercício da profissão com empatia pode servir como catalisador para mudanças significativas. Quando policiais penais atuam com humanidade, eles não só promovem um ambiente mais seguro, mas também ajudam na reintegração dos detentos à sociedade, contribuindo para a diminuição da reincidência criminal, que não era o caso literalmente em telas do mundo, o fato era que Eunice Paiva e toda sua família eram vítimas encaceradas por criminosos travestidos de autoridades, coisas que os policiais penais convivem em seu dia a dia.

Além disso, a ética policial na gestão de instituições prisionais é uma questão emergente que merece atenção. Os policiais penais devem servir como modelos de respeito e dignidade, promovendo um ambiente de reabilitação em vez de punitivo. Ao se engajar de maneira proativa na formação contínua sobre os direitos humanos e práticas restaurativas, esses profissionais podem construir relações mais construtivas com os apenados. Isso não representa apenas uma mudança de paradigma, mas um compromisso com a construção de um sistema prisional mais justo e humano.