Justiça pediu transferência do ex-delegado para presídio de segurança máxima após quebra de sigilo telemático expor livre acesso a celulares dentro da cadeia, além de fácil ingresso de empresário à unidade prisional.
O diretor e o subdiretor da Cadeia Pública Constantino Cokotós, onde estava preso o ex-delegado Marcos Cipriano de Oliveira Mello, foram afastados do cargo. A informação foi divulgada na manhã desta terça-feira (20) pela Secretaria de Administração Penitenciária (Seap).
De acordo com a Seap, a unidade prisional ficará sob a responsabilidade da Corregedoria da Administração Penitenciária até que se conclua a apuração dos fatos que culminaram no pedido de transferência do ex-delegado para Bangu 1, unidade de segurança máxima do sistema prisional fluminense.
A transferência de Cipriano foi determinada na segunda-feira (19) pelo juiz Bruno Monteiro Rulière, da 1ª Vara Especializada em Organização Criminosa e cumprida à noite.
A decisão foi tomada depois que Cipriano – preso em maio na Operação Calígula, que mirou a exploração ilegal de jogos de azar pelo bicheiro Rogério Andrade – , foi flagrado usando o celular para falar com a mulher, a também delegada Daniela dos Santos Rebelo Pinto.
Ela é investigada na Operação Novo Egito, do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio de Janeiro, e suspeita de montar falsas operações policiais para favorecer Glaidson Acácio dos Santos, conhecido como Faraó dos Bitcoins.
“Parte dos novos elementos trazidos são oriundos do compartilhamento do resultado parcial da quebra de dados telemáticos daquela. Os elementos apontam que o réu Marcos Cipriano de Oliveira Mello vem fazendo uso indiscriminado e criminoso de aparelho de celular com conexão à internet dentro da unidade prisional”.
diz trecho do documento apresentado à Rulière.

O documento fala ainda que Cipriano é favorecido com privilégios, como visitas extraordinárias, entrada de visitantes não cadastrados e visita de um empresário, que teria ingressado no sistema se apresentando falsamente como advogado.
Ele também conversa com a mulher sobre a possibilidade de provocar matérias jornalísticas contra o Ministério Público e/ou Gaeco, e faz chamada de vídeo para falar com a filha. (VEJAM FOTO DA CAPA)
‘Trabalho’ para o juiz
Em outro momento, Daniela Rebelo pede o nome do juiz do caso do marido e dos promotores do Gaeco para fazer aquilo que chama de “trabalho”.
O material apresentado pelo Ministério Público tem mais de 28 páginas e foi analisado pelo juiz Bruno Rulière nesta segunda-feira (19), que prontamente determinou a transferência.
“Impõe-se a transferência de réu Marcos Cipriano De Oliveira Mello para estabelecimento prisional que se revele capaz de inibir adequadamente e efetivamente atos ilícitos noticiados. Determina-se a transferência, pelo prazo mínimo de 10 (dez) dias (observada a necessidade do caráter transitório da medida extrema), do réu para unidade de segurança máxima”
determina Rulière, que revoga ainda a prisão especial que o delegado teria direito.
Delegado há mais de 20 anos
Marcos Cipriano era delegado há mais de 20 anos e já ocupou o comando de várias delegacias. Desde o ano passado, ele era investigado pela Corregedoria da Polícia Civil por uma ligação telefônica com Ronnie Lessa, apontado como o assassino da vereadora Marielle Franco.
Na época, Cipriano negou as acusações e alegou já ter prestado esclarecimentos sobre o caso. Ele acrescentou que a ligação aconteceu antes de Lessa ser acusado pelo homicídio de Marielle.
Em setembro do ano passado, Cipriano teve a indicação aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) como conselheiro para a Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico do Rio (Agenersa).
A Agenersa afirmou que não comentaria a prisão do conselheiro, “uma vez que se tratam de fatos que não estão relacionados às atividades da agência e que ocorreram no período anterior à nomeação”.
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