Segundo investigação, Francisco Anderson da Silva Costa, o Garça, tinha ‘nítida intenção de repassar as imagens e exibir o exército recrutado’
Rio – Apontado como homem de confiança de Wellington da Silva Braga, o Ecko, morto em confronto com a Polícia Civil em 12 de junho de 2021, o paramilitar Francisco Anderson da Silva Costa, o Garça, tinha como forma de retribuição – após receber informações privilegiadas – enviar como agradecimento blusas personalizadas a servidores públicos, principalmente agentes da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), que haviam sido cooptados pela quadrilha e pedir fotos com eles as vestindo. De acordo com os investigadores, era uma forma do criminoso ter em seu poder provas de que havia “recrutado um exército” e de que eles usavam a “camisa-uniforme” da quadrilha. Imagens do celular do paramilitar revelaram essa investida.
Nesta sexta-feira, o Ministério Público do Rio (MPRJ) e a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas deflagraram a Operação Heron contra agentes do estado que tinham alguma ligação contra a milícia que atua na Zona Oeste da cidade. Para os milicianos, era importante ter a participação desses policiais penais, já que eles são os responsáveis por recapturar presos.
De acordo com a investigação, no dia 9 de fevereiro do ano passado, Garça enviou uma blusa com o símbolo do Serviço de Operações Especiais (SOE ) para o policial penal Edson da Silva Souza. O agente agradeceu e disse que “adorou a camisa”. Edson é um dos alvos da operação e está com mandado de prisão ainda em aberto. Na mesma data, ele recebeu mais uma camiseta com o símbolo do Grupo de Intervenção Tática da SEAP (GIT).
Garça, então, pede uma foto, e diz: “Se tú puder, cara… se tú puder, manda a foto… manda a foto aí pra mim, pra eu vê como é que fico. Precisa botar teu rosto não, mané. Eu gosto de vê como é que ficou, que eu já pedi outras, pra daqui a três meses, que é lá do Ceará. Eu vou pedir mais reforçada no abdômen e no peito, entendeu? Pra ficar um negócio tipo…negócio tipo armadura, vai ficar brabo!”. Souza, então, envia uma imagem. De acordo com os diálogos, os agentes Ismael de Farias Santos e Alcimar Badaró Jacques, o Badá, também teriam recebido o presente. Os dois foram presos durante a operação nesta sexta-feira.
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Ainda de acordo com as mensagens obtidas por investigadores, três dias após receber o presente, Edson da Silva Souza enviou uma mensagem a Garça. Nela, ele aparece em um sítio e afirma que recebeu “uma moral excelente do amigo de cima”. O miliciano diz que o “amigo de cima é muito bom de coração e fica feliz em ver o amigo (Souza) na obrinha”. Os investigadores afirmam que, nesse diálogo, fica subentendido que Souza tenha recebido alguma espécie de vantagem, possivelmente financeira. O “amigo de cima” seria Luiz Antônio da Silva Braga, o Zinho, irmão de Ecko, então chefe da milícia.
Segundo a delegada adjunta da Draco, Thaiane Moraes, os agentes da Seap ganhavam diversos benefícios ao ajudarem o grupo paramilitar.
— Eram trocados agrados e presentes que se configura uma relação ilícita em relação a essa atividade deles. Foram registrados presentes recebidos por esses agentes em relação aos milicianos. Eles colocavam esses milicianos dentro de grupos de segurança. Eles se disfarçavam de policiais penais e dificultavam as operações policiais. Tudo nos autos mostra que existia um ímpeto dos agentes em favorecer esses milicianos em troca de presentes e quantias de dinheiro para esses agentes que passavam informações relevantes que esses paramilitares. Eles recebiam roupas, uniformes, armamentos e dinheiro. Isso é o que os agentes da Seap recebiam dos milicianos — destacou a delegada.
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